Cinema na Educação
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

8 milímetros -
No submundo do sexo

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Ao assistir esse filme fiquei pensando seriamente quanto ao modo como reagiram os artistas, técnicos, produtores e demais trabalhadores envolvidos na produção em relação aos pormenores da "indústria do sexo explícito" apresentada na trama. Várias são as seqüências que evocam a produção de filmes de sexo explícito (sem que o filme se torne, necessariamente, apelativo), algumas delas inclusive, aludem ao lado mais vil e cruel das produções pornográficas.

Lembro-me que nos anos 1970, em virtude da rigorosa censura que vigorava em nosso país, que procurava coibir o surgimento de qualquer manifestação de caráter político-ideológico, surgiu uma produção cinematográfica brasileira devotada à produção de filmes eróticos; eram as pornochanchadas, muito criticadas pelo baixo nível das histórias, pela realização de custo mínimo (que acabava gerando cenas ridículas e gafes notáveis) e pela profusão de mulheres nuas a circular em frente às câmeras.

As pornochanchadas brasileiras me parecem extremamente inocentes quando comparadas ao universo apresentado no filme "8 milímetros".

E lembrar que esses filmes eróticos produzidos na boca do lixo paulistana e alguns de seus principais atores e atrizes foram até mesmo perseguidos por alguns órgãos defensores da moral e dos bons costumes no Brasil de então,...

Atualmente, a "indústria do sexo" não para de crescer. Nos Estados Unidos e no mundo inteiro. Eventualmente, quando vivenciamos circunstâncias muito específicas e que causam comoção (como a Guerra entre Estados Unidos e Iraque) ficamos sabendo que as buscas realizadas na internet por sites de conteúdo pornográfico foram superadas pelas pesquisas envolvendo esses outros temas. E o pior de tudo é encararmos tudo com a maior naturalidade...

Não nos chocamos. Não condenamos a exploração sexual de homens, mulheres e crianças. Ficamos um pouco consternados com a pedofilia, mas é só! Pode-se argumentar que as pessoas envolvidas com esse mundo sórdido ganham muito dinheiro (mais do que a maioria das pessoas). Algumas pessoas dizem que somos livres e que podemos fazer o que bem quisermos de nossas vidas. Outros falam que a prostituição é a mais antiga das profissões e que, em muitos ramos profissionais, acabamos perdendo a inocência e nos vendemos com extrema constância o que não nos torna diferentes das mulheres e homens de "vida fácil"...

Não posso afirmar com certeza se as pessoas que participaram das filmagens de "8 milímetros" se preocuparam em apresentar o submundo do sexo explícito de forma a despertar um debate e uma consciência quanto a existência desse problema. Penso que alguns internautas podem imaginar minhas ponderações como moralistas. Acredito, porém que a despeito das intenções dos realizadores de "8 milímetros", o filme suscita discussões acerca do tema e, por esse motivo, deve ser explorado pelos educadores.

A História

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A descoberta de um rolo de filme pornográfico, em formato 8 mm, no cofre de um milionário recém-falecido, leva a viúva do mesmo a contratar um detetive (Nicolas Cage) para descobrir o paradeiro das pessoas envolvidas na filmagem. O desfecho trágico apresentado no filme induz a viúva e o detetive a acreditarem que a ficção acabou em morte real, verdadeira.

Tom Welles (Cage) tem que verificar o que aconteceu com a garota que aparece morrendo no filme. Para tanto acaba se infiltrando no fechado e restrito mundo dos filmes pornográficos. Convive com produtores que mais se parecem com cafetões, verifica como é o cotidiano desse submundo e o inferno vivido pelas garotas e garotos envolvidos nos filmes, presencia a auto-destruição dessas pessoas e sofre as conseqüências por ter entrado onde não era bem-vindo. O drama pessoal vivido pelo personagem de Cage contribui para que não fiquemos passíveis em relação à exploração sexual apresentada nas telas.

O filme tem todas as qualidades de um grande thriller de suspense, mas supera esse patamar na medida em que coloca em discussão um tema forte, de interesse geral. Concebido pela mão firme do diretor Joel Schumacher, apresentando características de filme noir e contando com o talento de Nicolas Cage e Joaquin Phoenix, torna-se uma ótima e interessante alternativa de trabalho em aula.

Aos professores

Dois-homens-conversando-em-ambiente-escuro

1- Discutir questões relativas à sexualidade e a reprodução dentro daquilo que encaramos como normalidade é referência obrigatória para a área de ciências da natureza e saúde. Nesse espaço também deve ser aberta a oportunidade de dialogar sobre a distorção da sexualidade, quando as relações saudáveis são transgredidas e instala-se a perversidade, a exploração e o abuso.

2- Em filosofia devemos abordar a questão do corpo humano como fonte de realizações, de transformações e, também de prazer. Mas, que prazer existe quando extrapolamos o aceitável e imputamos a nosso organismo o excesso e a sofreguidão do descontrole? "8 milímetros" abre espaço para que vejamos os limites tênues que separaram a sanidade e o prazer da loucura e da auto-flagelação sexual.

3- Ampliar a discussão e mostrar que a exploração desmedida do corpo humano através da prostituição constitui a violação da privacidade e a destruição da saúde física e mental das pessoas é tarefa essencial a ser executada pelos professores de todas as áreas e disciplinas.

4- O que é moral? O que significa ter valores éticos? Até que ponto podemos permitir a continuidade da indústria do sexo? Quando falamos em dignidade, de que forma podemos relacionar esse conceito ao filme "8 milímetros"? Sem falsos moralismos, não podemos constatar excessos que ultrapassam o aceitável e que merecem condenação por parte da sociedade? Que tal pensar um pouco a esse respeito...

Obs. Esse filme deve ser utilizado com alunos de Ensino Médio ou mais velhos. Não é recomendado para estudantes do Ensino Fundamental.

Ficha Técnica

8 milímetros
(8 mm)
País/Ano de produção:- EUA, 1999
Duração/Gênero:- 123
Disponível em VHS e DVD
Direção de Joel Schumacher
Roteiro de Andrew Kevin Walker
Elenco:- Nicolas Cage, Joaquin Phoenix, Anthony Heald,
Don Creech, Anna Gee Byrd, Myra Carter, Christopher Bauer.

Links

http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1176

http://www.adorocinema.com/filmes/8-milimetros/8-milimetros.asp

http://www.cineinsite.com.br/filme/filme-fichatecnica.php?id_filme=2976

http://us.imdb.com/Title?0134273 (em inglês)

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Avaliação deste Artigo: 4 estrelas
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5 COMENTÁRIOS

1 Rui Fernandes da Silva - São Paulo
O artigo é muito interessante,mais infelismente não pude analisar o filme se encontra fora do ar. sem problema em uma outra oportunidade vou ver se consigo assitir e depois dou minha opinião.
17/09/2012 19:47:52


2 aparecida elisandra mathias de oliveira - lençóis paulista
As pessoas fazem as trocidades e sempre esperamos respostas, que nos mostrem, que aquela pessoa se transformou naquilo, o que é e faz por algo torpe que lhe aconteceu na vida, e não que ela o faz, simplemente por fazelas, como o filme demonstrou, todos fizeram o que fizerem, pelo simples fato de assim o quererem, de que a aquela trocidade surgia de dentro deles por que assim o são, no fim o detetive ficou sem a resposta que queria ouvir, o motivo.
08/06/2009 10:02:00


3 Selma Reis Lapa - Santos SP
Parabéns ! Necessário se faz que outras vozes se juntem a nós, com coragem e determinação precisamos REAGIR !Crianças,adolescentes estão a cada dia refém desse mercado milionário,assassino,distorçor de valores,mentes doentias,egoístas expoem suas taras poluindo as novas gerações a cada dia,culturalmente pobres preferem destruir emocionalmente corações e mentes com um LIXO que hoje vemos:pedofilia multiplicada,crianças sexualmente molestadas,orgias e mortes etc. Parabéns e que possamos honrar a VIDA com esta reflexão. Selma Reis Lapa Diretora do Departamento de Educação da Cruz Vermelha Brasileira Filial de Santos SP e professora da Rede Municipal de Santos
09/10/2008 11:15:38


4 joana cristina vantini nascimento - presidente prudente - sp
para mim,.a grande questão do filme, é o de porque, as pessoas fazem as trocidades que fazem, sempre esperamos respostas, que nos mostrem, que aquela pessoa se transformou naquilo, o que é e faz por algo torpe que lhe aconteceu na vida, e não que ela o faz, simplemente por faze-las, como o filme demonstrou, todos fizeram o que fizerem, pelo simples fato de assim o quererem, de que a aquela trocidade surgia de dentro deles por que assim o são, no fim o detetive ficou sem a resposta que queria ouvir, o motivo.
10/06/2007 02:58:27


5 Victor - São José dos Campos
Muito bom o artigo , mais eu gostaria de fazer uma sugestao, poderia colocar as datas nos artigos para poder saber qual o mais recente...
22/03/2007 12:04:32


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