20/10/2003 - 3 X Cursos = ? - 20/10/2003
Brasil, o país que abriu 3 cursos superiores por dia nos últimos 5 anos
O que o cidadão poderia pensar se o governo pudesse criar o equivalente a 3 postos de saúde por dia ao longo de todo um ano? Com certeza essa notícia significaria a resolução dos problemas da área de saúde em todo o país.
E se as prefeituras conseguissem emendar 3 atividades educacionais ou culturais todos os dias envolvendo um enorme número de crianças e adolescentes? Isso poderia significar um menor envolvimento desse contingente da população com as drogas ou a violência.
Imagine então que três prefeituras, todos os dias, conseguissem montar bibliotecas e disponibilizar seus acervos a todos os munícipes? Seriam mais de mil bibliotecas criadas a cada ano, isso certamente poderia levar a uma melhoria nos resultados das crianças e jovens nas escolas (entre muitas boas conseqüências).
Outra alternativa seria pensar que se todos os dias, de cada cidade brasileira, fossem poupados 3 reais do dinheiro público que invariavelmente vai parar nos bolsos de políticos corruptos, seriam devolvidos para investimentos em diversas áreas (educação, saúde, habitação, transportes, saneamento,...), somente em São Paulo, o equivalente a mais de mil e quinhentos reais por dia, quatrocentos e cinqüenta mil reais por mês e, perto de cinco milhões de reais por ano...
A essa altura o leitor deve estar pensando a respeito de minha fixação pelo número 3, afinal de contas desde o início desse editorial, falei sobre postos de saúde, bibliotecas, atividades culturais e dinheiro público sempre a partir dessa quantidade.
O que motivou essa “fixação”?
Li no jornal de domingo que as faculdades privadas brasileiras tem criado, ao longo dos últimos cinco anos, em média, 3 novos cursos por dia. Repito, para que a necessária ênfase seja dada, 3 novos cursos por dia. Talvez fosse necessária uma nova repetição para que o internauta pudesse pensar melhor a respeito disso, 3 novos cursos por dia...
Os números são, de fato, impressionantes. Em 1998, existiam no Brasil, em instituições particulares ou públicas, 6.950 cursos. Em 2002, esse número havia crescido para 14.399 cursos. O índice mais do que dobrou!
Ótima notícia!
Se formos afoitos (e otimistas) podemos imaginar que o surgimento desses cursos é notícia tão boa que deve ser comemorada com champagne. Novas salas de aula, mais empregos diretos e indiretos sendo criados, oportunidade para que um contingente muito maior de estudantes possa ingressar na faculdade, o surgimento de cursos que ainda não existiam por aqui,...
Informação esperada!
Com tantos recursos sendo destinados a educação, seria mais que razoável que obtivéssemos esses resultados a partir do início desse século. Foram tantos projetos na área educacional geridos pelo governo anterior e iniciados pelo atual, que os dados refletem a seriedade do trabalho e o investimento que deve reverter num constante e progressivo desenvolvimento sócio, político e econômico...
Será que a notícia é mesmo tão boa?
Se pensarmos que o crescimento representou uma maior ingerência das instituições privadas no ensino superior, podemos imaginar que o governo está se isentando das responsabilidades que lhe cabem na educação. Ao mesmo tempo podemos questionar se esse crescimento assombroso foi respaldado por preocupações e investimentos que tornassem essa expansão totalmente qualificada no que tange a formação dos professores, a disponibilização de livros (novas bibliotecas), a criação de laboratórios adequados e plenamente equipados, salas de aula com os recursos necessários,...
Essa manchete representa uma verdadeira bomba!
Os pessimistas de plantão podem argumentar que as redes privadas de ensino, sequiosas de lucros altos, com certeza montaram estruturas que não respondem adequadamente as exigências do governo e do mercado; devem criticar essa privatização exagerada e a falta de investimentos maciços nas universidades públicas; com certeza questionarão o destino das verbas arrecadadas pelo MEC e pelas Secretarias da Educação de estados e municípios...
Afinal, O que devemos pensar a respeito desses números?
Talvez todos os citados anteriormente, do otimista ao pessimista, passando pelas opiniões intermediárias tenham alguma coisa importante a nos dizer. Vejamos:
- Quando o pessimista se manifesta de forma preocupada com o destino das verbas públicas reservadas à educação... Devemos, certamente nos manifestar e buscar esclarecimentos em relação ao destino dado a esse dinheiro. Será que ele não está sendo repassado pelo governo a iniciativa privada para bancar esse crescimento? Se está, quais são os termos que regem essa associação? Isso reverte em políticas sociais como a disponibilização de crédito educativo e bolsas de estudo para alunos carentes?
- A qualidade dos cursos montados é preocupação das maiores que devemos ter quanto a esse assunto. Iniciei esse editorial postulando algumas situações relacionadas a quantidade de cursos montados diariamente no Brasil nos últimos 5 anos (três, em média). Imaginem se os Postos de Saúde montados não tivessem equipamentos, remédios, enfermeiros formados ou médicos que já tivessem completado suas especializações. Seria caótico não acham? O que aconteceria se as bibliotecas abertas não tivessem seus acervos atualizados e mantivessem a mesma quantidade de livros desde sua inauguração? Não seriam tão positivas para a comunidade, não concordam? A inspeção e averiguação dos novos cursos pelo MEC e demais organismos estatais deve ser constante e rigorosa. Não devemos permitir que o ensino superior seja sucateado com a oferta de cursos que pouco se diferenciam em relação às etapas anteriores de estudo. As faculdades e universidades têm a responsabilidade de formar profissionais de diversas áreas. Esses estudantes, futuros advogados, médicos, administradores, professores, engenheiros e tantas outras profissões responderão pelas necessidades reais de muitas pessoas e pelo futuro de nosso país... Não dá para brincar com isso!
- Sem dúvida alguma, o crescimento da procura estimulou o crescimento do ensino superior e foi, por sua vez, resultante do aumento expressivo de matrículas no ensino médio ao longo dos últimos anos. O mercado tem exigido maior especialização. Os investimentos em educação tornaram-se prerrogativa básica para que o Brasil possa competir no mercado mundial de igual para igual com gigantes europeus, asiáticos ou com os Estados Unidos. Ao destinar, por força de lei, percentuais elevados dos orçamentos municipais, estaduais e mesmo federal e criar a Lei de Responsabilidade Fiscal, os governos brasileiros mostraram firme propósito de efetivar uma educação de qualidade. Os resultados começaram a aparecer agora, no século XXI.
- Quanto aos otimistas, vale destacar que esses novos cursos realmente representaram oportunidades para muita gente. Trabalho para professores, funcionários; investimentos na construção civil (para a construção de novas instalações); venda de recursos para abastecer essas novas faculdades (de lousas e giz a computadores e livros); os novos cursos vieram responder as necessidades de setores em franca expansão ou o advento de novas áreas de trabalho (especialmente no comércio, nos serviços e, mais particularmente, no turismo).
O que acontecerá a partir desses acontecimentos? Que tal 3 idéias quanto ao futuro para fechar essa reflexão?
1- O tempo sacramentará os modelos educacionais que atuarem de forma profissional, respondendo com responsabilidade e investimentos a ampliação de sua estrutura (contratando pessoal altamente especializado, atualizando recursos materiais, dando pleno suporte a seus estudantes,...).
2- Desvios de verbas e gerenciamento inadequado de recursos públicos levarão muita gente para a cadeia. A sociedade passará a fiscalizar mais freqüentemente os investimentos em todas as áreas, especialmente na educação. Isso reverterá em melhor qualidade dos serviços em geral... (parece sonho, espero que se concretize).
3- O Brasil se consolidará como uma liderança mundial. Continuaremos a ter problemas, alguns muito sérios, mas a resolução de questões fundamentais será encampada pela população que pressionará os governos e atuará para a melhoria geral da vida no país. Isso será, claramente, resultado de uma educação mais qualificada, da Educação Infantil ao Ensino Superior... (podemos, certamente, chegar lá).
Obs. Uma boa notícia constatada nos últimos
dados estatísticos divulgados pelo MEC
e pelo INEP é que aumentou o número
de mestres e doutores atuando nas faculdades
e universidades brasileiras. Esse dado vale,
verdadeiramente, celebrar! Para melhores informações,
dê uma navegada nos sites do MEC e do
INEP, cujos links estão disponíveis
ao final desse artigo.
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