Jamaica Abaixo de Zero - 18/01/2008
O espírito olímpico em sua essência
Ano olímpico é festivo, alegre, engrandecedor do espírito humano. É no esporte que a humanidade revela uma de suas principais e mais estimadas qualidades, e não estou me referindo a competitividade (igualmente importante, mesmo que às vezes vilipendiada e criticada em excesso), a superação. E não se trata apenas de pensar em superação como sinônimo dos atletas que vencem ou que completam a prova de forma memorável (como foram os casos de Gabrielle Rose na olimpíada de Los Angeles ou, mais recentemente, de nosso maratonista Wanderley Cordeiro de Lima, medalha de bronze em Sidney).
Refiro-me a uma capacidade que extrapola o aspecto individual e se revela na humanidade como um todo. Os Jogos Olímpicos revelam um esforço grandioso desde o momento em que se abre a disputa entre os países para saber quem vai ser a sede dos futuros eventos, aqueles que irão se realizar daqui a 8 ou até 12 anos para frente. As nações organizam-se para mostrar que têm condições de abrigar essa grande festa do esporte e, para isso, devem ter fôlego, músculos, disposição e, além de tudo, capital para investir.
Portanto é como se estivéssemos assistindo a uma disputa clássica de maratonistas, com os países demonstrando endurance (termo técnico usado por treinadores, fisiologistas, preparadores físicos e atletas para falar sobre resistência e fôlego para as provas mais longas do atletismo ou da natação, por exemplo), perseverança, fé e vontade política/social invejáveis para convencer o Comitê Olímpico Internacional.
Ao mesmo tempo em que a batalha ocorre na construção da infra-estrutura física e nos bastidores da política esportiva, os atletas de todos os esportes enfrentam uma maratona exaustiva (porém necessária) de treinamentos e competições. Viajam pelos seus próprios países e para outras nações, envolvem-se em campeonatos e disputas para avaliar seus próprios desempenhos e conhecer os competidores. Apuram a forma física com corridas, musculação, alongamentos, treinamentos específicos e longas horas de dedicação que lhes custam afastamento da família e dedicação praticamente exclusiva ao esporte.
Aprendendo a lidar com o Bobslead numa banheira (Cena do filme).
Quando assistimos aos jogos olímpicos estamos vendo apenas o desfecho, o momento do clímax, do êxtase próprio das grandes disputas envolvendo corredores, saltadores, nadadores, jogadores de vôlei, canoístas, esquiadores (nos jogos de inverno), ginastas,... E o mais importante de tudo isso é não perder de vista toda a capacidade de superação que levou os Jogos Olímpicos a acontecer e os atletas a conseguirem estar por lá e o percurso percorrido para que essa grande festa viesse a ser bem sucedida.
Nesse sentido o filme “Jamaica Abaixo de Zero”, do diretor Jon Turteltaub, estrelado pelo já falecido John Candy (um dos melhores comediantes de sua geração), ao nos contar a história real de um grupo de jamaicanos que formou a primeira equipe de atletas daquele país tropical para participar de uma Olimpíada de Inverno é exemplar.
Trata-se de um filme aparentemente despretensioso, uma comédia pode muito bem ser apresentada na sessão da tarde, mas que revela o quanto há de capacidade de superação no ser humano mesmo nas situações mais improváveis como a dessa produção. E o mais interessante é que podemos acompanhar a trajetória do grupo do começo ao fim de sua nobre empreitada e dar ainda boas gargalhadas. Aprendam e divirtam-se!
O treinador da equipe jamaicana de bobslead no filme
“Jamaica Abaixo de Zero”, Irwin Blitzer (John Candy).
O filme
Leon (Derice Bannock) é um atleta de elite em seu país, a Jamaica. Ele é filho de um ex-corredor velocista daquela nação que chegou às Olimpíadas e conseguiu chegar ao pódio. Como seu pai, Leon está se preparando para as seletivas nacionais jamaicanas e deve também chegar ao mais prestigiado evento esportivo da humanidade. Afinal de contas ele é o melhor corredor do país como comprovado em várias competições dos últimos meses...
Mas,... O destino pode ser cruel até mesmo com os melhores e mais preparados... Ao partir para a sua prova de cem metros rasos, clássica disputa do atletismo mundial, Leon tropeça num dos competidores e vê suas chances de chegar aos Jogos Olímpicos irem literalmente para o espaço... O jeito, lhe dizem os dirigentes de seu país, é se preparar para os próximos eventos olímpicos, que irão ocorrer daqui a mais quatro anos...
Inconformado e sabedor de suas condições de chegar às Olimpíadas, Leon busca inspiração em seu pai (já falecido) e descobre que um dos amigos olímpicos (e medalhista) da época em que seu progenitor disputava tais competições não só está vivo, mas mora muito próximo a ele, na própria Jamaica...
Trata-se de Irwin Blitzer (John Candy), especialista em esportes no gelo, medalhista olímpico no Bobslead (uma espécie de trenó que corre numa pista fechada, conduzido por quatro atletas velocistas e que tem como objetivo a conclusão do percurso no menor tempo), que aposentou-se e abriu um bar naquela ilha caribenha.
Qual a missão de Leon? Convencer Blitzer a treinar uma nova equipe de Bobslead, formar um grupo de atletas velocistas capazes de enfrentar essa modalidade, conseguir equipamentos para treinar e competir, obter o índice olímpico e, pela primeira vez na história, levar um país tropical, onde não neva, a participar de uma Olimpíada de Inverno... Parece pouco? Claro que não! E o mais interessante de tudo é que se trata de uma história verdadeira e um grande exemplo de superação. Confiram!
Preparados para o desafio? (Cena do filme)
Para Refletir
- O espírito olímpico prevê treinamentos duros e competições árduas, momentos de glória e situações de derrota. O esporte sintetiza a alma humana ao propor uma trajetória em que se misturam a dor, a alegria, a recompensa, o drama, a preparação, o desfecho, a desclassificação ou a medalha tão sonhada. Nosso país possui pouca tradição olímpica. Temos ao longo de nossa história alguns êxitos apenas. Experiências isoladas, casos de atletas excepcionais, normalmente bancados pelas famílias ou por clubes, que conseguiram atingir a excelência em suas modalidades. Como alterar isso? Penso que a base são as escolas, a educação física, a formação de escolinhas de esporte, a configuração de calendários de competições envolvendo redes municipais, estaduais e depois os eventos nacionais e internacionais. Mas não há possibilidade de triunfo se não se pensar em projetos a longo prazo, para formar não apenas os campeões do futuro, mas os cidadãos do amanhã, pois o esporte também dá disciplina, maturidade, competitividade, ética e princípios de cidadania. Apoios privados e governamentais são, nesse sentido, tão essenciais quanto a participação das escolas, clubes e famílias para a formação de atletas. O desafio está lançado, os resultados a serem atingidos para o esporte, a educação, a cultura, a sociedade e a nação são os melhores possíveis... Que tal investir nessa idéia?
- Um dos temas trabalhados no filme “Jamaica Abaixo de Zero” são as fraudes no esporte. Num momento como o que estamos vivendo, quando uma ex-campeã do atletismo (Marion Jones) traz a público o seu caso de doping, é punida pelas autoridades do esporte e da sociedade (teve que devolver as medalhas e ainda foi condenada a prisão) e também no auge das denúncias de uso de anabolizantes pela a nadadora Rebeca Gusmão que estão lhe custando a carreira (as medalhas, o respeito e até a própria auto-estima), nada mais apropriado do que abordar a questão da ética no esporte e da necessidade de lisura nas competições. Abaixo a mentalidade do sucesso a qualquer preço. Que prevaleçam os ensinamentos do Barão de Coubertin (o criador dos Jogos Olímpicos Modernos) que pregam o mais importante para os atletas como sendo a participação digna, justa e limpa nas competições (“O importante é competir”).
Ficha Técnica
Jamaica Abaixo de Zero
(Cool Runnings)
País/Ano de produção: EUA, 1993
Duração/Gênero: 97 min., Comédia
Indicação Etária:Livre
Direção de Jon Turteltaub
Roteiro de Lynn Siefert, Tommy Swerdlow e Michael Goldberg,
baseado em estória de Lynn Siefert e Michael Ritchie
Elenco: John Candy, Derice Bannock, Doug E. Doug, Rawle D. Lewis, Malik Yoba, Paul Coeur, Raymond J. Barry, Peter Outerbridge, Larry Gilman, Charles Hyatt, Winston Stona.
Links
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1748
http://www.adorocinema.com/filmes/jamaica-abaixo-de-zero/jamaica-abaixo-de-zero.asp
1 Marisa Baylão - Volta Redonda, RJ
Sou coordenadora pedagógica e estamos organizando uma videoteca em nosso colégio estadual. Tenho alguns filmes e as orientações do professor João Luís Almeida Machado,a respeito deles que foram muito bem aproveitados. Entrei hoje buscando mais filmes e não encontrei. Gostaria de saber se é possivel receber os roteiros de estudo dos filmes´já elaborados pelo professor. Obrigada!!!
13/02/2008 22:01:45
2 Rosa-Lima - São Luís - MA
Não sei se estou enganada. Mas antes no site de vcs em relação aos filmes tinha o planejamento como? quando? aonde(disciplina)? ultilizar o filme como ferramentas na sala de aula. Ex: filme tal deve ser usado na aula de ciências e deve ser contextualizado das seguintes maneiras....
21/01/2008 22:07:30
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