A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A educação em debate através dos blogs - 08/01/2008
Tecnologias podem ser aliadas para a melhoria da educação

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Uma pílula azul e outra vermelha
Escolha difícil... A pílula vermelha ou a azul?

Em recente entrevista ao jornal “Folha do Dia”, fui questionado quanto a violência nas escolas contra os professores e também acerca do uso de blogs na educação no Brasil. No caso da primeira temática, o interesse era ampliar o debate acerca de uma questão bastante delicada e que tem sido alvo crescente de matérias publicadas pela imprensa. O ano de 2007 foi marcado por várias notícias sobre agressões praticadas contra os professores durante o seu expediente de trabalho e até mesmo fora dele.

O questionamento quanto aos blogs (diários virtuais eletrônicos produzidos por milhões de pessoas ao redor do mundo todo) surgiu em virtude da pesquisa que estou realizando e que pretendo concluir no presente ano de 2008 para meu doutorado na PUC-SP.

Quando fui inquirido pela repórter já havia criado 3 blogs para captar informações para esse trabalho. Hoje, ainda como parte de minha experimentação, foram produzidos mais 10 blogs e ainda criei uma plataforma através da qual os internautas interessados em educação podem ter acesso a esses materiais. 

Esse “canal” de acesso as meus blogs educacionais é um site particular e chama-se Observatório da Educação* (www.observatoriodaeducacao.com).

No Editorial dessa semana reproduzo os tópicos abordados na entrevista, conduzida pela jornalista Samanta Leandro. Seguem abaixo as questões e as respostas completas dadas ao jornal “Folha do Dia”.

Folha do Dia - Como surgiu a idéia de criar um blog que fala sobre educação?

João Luís - Fiz uma palestra sobre o uso das novas tecnologias em educação para os professores da rede municipal de um grande município do interior de São Paulo, a cidade de Bauru. Todas as vezes que faço essas apresentações fico com a grata e sincera impressão de que os professores querem saber mais, aprender o que puderem sobre o assunto e realmente incorporar esses recursos ao seu cotidiano. Mas o dia a dia é opressor e, em virtude dessa particularidade, muitos deles acabam simplesmente voltando as práticas que sempre adotaram por falta de maior incentivo e também de novas informações (troca de idéias) com quem já utiliza essas ferramentas. O blog foi a saída encontrada para podermos continuar em contato, aprofundando os saberes, introduzindo novas idéias, ajudando no caso de dúvidas... Além disso, estou estudando blogs em educação para a minha tese de doutorado na PUC-SP.

FD - Por que o blog recebe este nome “Escolhendo a pílula vermelha”?

JL - O nome relaciona-se ao título da palestra que ministrei naquela cidade e que tem como fator de motivação o filme “Matrix”, a respeito do qual já produzi artigo para o Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br), portal onde sou articulista e editor. A produção cinematográfica em questão é baseada na Alegoria da Caverna do pensador grego Platão e tenta incitar as pessoas a saírem do marasmo, a refletirem sobre o seu cotidiano, a não aceitarem passivamente o que lhes é imposto...

Um adulto e uma menina olhando num telescópio
O projeto dos blogs se ampliou e dele surgiu o Observatório
da Educação (www.observatoriodaeducacao.com).

FD - Você já passou por algum tipo de violência dentro da sala de aula?

JL - Felizmente nunca. Já presenciei alunos se agredindo e tive que interceder, mas pessoalmente nunca fui alvo de qualquer agressão. No caso dos alunos que se agrediram procurei contar com o auxílio dos outros estudantes presentes para separar as moças que estavam se atracando (era uma turma de EJA - Educação de Jovens e Adultos) e acionei a direção para que as medidas necessárias fossem tomadas pela coordenação e pela direção da escola.

FD - Em algum momento de sua carreira como educador já questionou sua escolha?
JL - Sim. Antes de responder a pergunta gostaria de dizer que sou muito feliz e que a escolha que fiz foi consciente e em primeira opção. A educação é um campo de dificuldades e problemas, mas a despeito disso creio sinceramente que é uma das únicas (senão a única) via real de aperfeiçoamento, crescimento, maturação e inclusão social e econômica. No Brasil, os discursos políticos sempre enaltecem o valor da educação, mas pouco ou nada fazem para realmente ajudar a melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem nacional – isso não lhes interessa. População esclarecida representa cobranças, autonomia, criticidade e maior participação política - qual grupo/partido político brasileiro quer ser incomodado pelo povo? É melhor manter a massa na ignorância e afagar-lhes a cabeça com cestas básicas, bolsas-famílias e outros paliativos sociais... Quanto a se questionei minha opção... Sim, no caso quando trabalhei numa escola que adotava sistema pré-vestibular e que era conteudista, se preocupando apenas em dar aulas e não em formar os alunos do ensino médio. Além de não concordar com a sistemática a clientela, formada eminentemente por estudantes de classe média alta, era desinteressada e parecia não se preocupar com o futuro, pois seus pais já haviam conquistado algum sucesso e eles se viam como beneficiários daquele patrimônio. Foi um ano apenas, mas o suficiente para que eu pensasse em ir vender sanduíche natural e água de coco na praia... O desgaste foi enorme e ao final daquele ano fatídico pedi demissão e fui em busca de novos ares... (Ainda bem!).

FD - Você tem colegas que já foram vítimas de violência física ou verbal?
JL - Sim. Alguns deles pediram transferência das escolas em que trabalhavam. Outros mudaram de profissão. Há também os persistentes, que desafiaram os problemas e que tentaram continuar...

Uma foto de uma mão escrevendo na lousa com um giz
A pesquisa sobre blogs fez surgir vários outros blogs educacionais, como
o Opinião de Educador, o Mundo dos Números, Tech Educação,...

FD - No blog muitos professores contam suas histórias, mas não se identificam. Isto é uma forma de se proteger de possíveis vinganças de alunos?

JL - Pode ser. Penso também que é uma forma de não expor publicamente a sua privacidade. São casos que não deixam ninguém a vontade. Mesmo sendo as vítimas, os professores sentem vergonha e humilhação em situações como essas. O desrespeito a integridade física e moral dos educadores brasileiros e as condições impróprias de trabalho têm afetado a auto-estima de quem trabalha em escolas.FD - O blog tem o poder de ajudar professores a suportarem o problema?

JL - Não posso afirmar isso. Creio que é uma ferramenta que auxilia ao criar elementos de diálogo, troca de idéias e até mesmo para que as pessoas se sintam a vontade para expor suas feridas sem que sua privacidade seja ferida ou invadida.

FD - O governo dá suporte para professores que já sofreram violência?

JL - Não tenho informações sobre o assunto. O que sei é que alguns professores agredidos conseguem transferir-se para outras escolas.

FD - Há casos de professores que dão aos alunos mais liberdade do que o normal. Isto faz com que os alunos ultrapassem limites?

JL - Liberdade é uma palavra que todos conhecem, mas que poucos entendem o real significado. A incompreensão do sentido da palavra é uma conseqüência da educação capenga e deficiente que temos no país. Nossos alunos raramente são levados a pensar sobre a questão. Os professores não se preocupam com isso, apenas querem cumprir planejamentos e programas curriculares. No início de cada ano devem ser estabelecidos de comum acordo entre o professor e a turma de alunos as bases de convivência - que podem e devem ser amigáveis, mas há papéis a serem cumpridos e uma hierarquia própria do ambiente a ser respeitada. O professor tem que se impor, sem ser autoritário, e definir os planos de ação, as tarefas a serem desenvolvidas, os projetos individuais e grupais, as estratégias a serem utilizadas, a metodologia de ensino e também conhecer o conteúdo de sua disciplina. Ao fazer isso e orientar as ações, utilizando-se do diálogo como ferramenta primordial nas relações que trava com os alunos, as possibilidades de os alunos ultrapassarem os limites diminuem... Mas isso não é uma receita, afinal de contas os contextos são diferentes, as turmas variam de ano para ano e de localidade para localidade...

* Além do blog “Escolhendo a Pílula Vermelha”, o site Observatório da Educação (www.observatoriodaeducacao.com) dá acesso aos seguintes blogs educacionais:-

  • Sala de Aula do Observatório
  • Observatório da Educação
  • Tech Educação
  • Ciência, Eficiência e Consciência
  • O Mundo dos Números
  • O Mundo em Reconstrução
  • Vídeos Nota 10
  • Opinião de Educador
  • Cinema de Primeira
  • Gargalhadas Mil

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3 COMENTÁRIOS

1 Maria Auxiliadora R. da Silva - São Roque do Canaã ES
Formar cidadãos socialmente aptos a serem inseridos no contexto social é uma das funções da escola os recursos cibernéticos por sua vez fazem parte dessa realidade educacional e conceituo como importantes ferramentas de inclusão sócial quando utilizadas adequadamente.
07/10/2011 13:26:02


2 Maria Aparecida Garcia Lemes - Guaratinguetá
Concordo com a colocação, referente aos professores, que ao receberem novas informações dos recursos tecnológicos, querem se aperfeiçoar mais e melhor, mas, não se utilizam desses recursos, por falta de incentivos e de pessoas experientes que compartilhem com eles suas ideias e opiniões.
14/07/2010 22:05:01


3 Gertrud Bauermann Padilha - Carazinho RS
Muito bom, hoje a violência está nas escola e inclusive nas pequenas cidades, quando víamos as reportagens na tv imaginavamos que isso era distante e hoje ja estamos enfrentando a violência em nossa escolas no interior. Um abração e bom trabalho Trudy
14/07/2009 19:32:15


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