Uma Aventura no Rio - 19/12/2007
Parte I - Conto
Ao passarmos pela Rua do Ouvidor, meus amigos entraram numa casa lotérica para colocar crédito em seus celulares. Disse-lhes que não entraria e ficaria à porta. Como sempre, eles entenderam minha intenção:
- Vai fumar né? - perguntou, afirmando, Reinaldo.
- Claro! - respondi.
Dobrei a bengala e a coloquei num dos bolsos traseiros. Recostei-me à parede e acendi um cigarro. Após dar umas duas baforadas, uma garota parou diante de mim e perguntou:
- Por favor... Que horas são?
Acionei o relógio e disse-lhe a hora.
- Seis e quarenta!
- Você é cego? - perguntou ela admirada.
- Sou!
- Me desculpe! Não percebi! Mas seu relógio está atrasado!
- Relaxe! É que moro em Salvador e lá não temos horário de verão, por isso não adiantei o relógio!
- Eu também sou baiana!
- E há quanto tempo está aqui?
- Há mais de vinte anos. Nasci em Xique-Xique e vim pra cá criança.
- Veio sozinha ou com seus pais?
- Viemos todos! Meu pai é gerente de um banco e veio transferido!
- Legal!
- Tenho que ir... Preciso trabalhar!
- Você trabalha aqui perto?
- Sim! Numa loja de brinquedos na Rua da Alfândega!
- Hahahaha!
- Qual foi a graça? Hahahaha!
- É que adoro comprar brinquedos e miniaturas!
- Se quiser dê uma passadinha lá na loja. O nome é "Brinquelandia" e fica no número vinte e sete!
- Até que horas você estará lá?
- Até meio-dia!
- Está bem! Mais tarde eu apareço por lá!
- Vou ficar esperando!
- Pode esperar!
- Tenho que abrir a loja! Tchau! Até mais tarde! - disse ela dando-me um beijinho no rosto.
Retribui o beijinho e dei também um "tchau" e continuei aguardando os meninos. Mais alguns minutos e eles apareceram. Formamos o "trenzinho" e fomos procurar uma loja de "som", pois Evangel queria comprar um "Home Theater". Entramos e saímos de diversas ruas do "Saara" e após visitarmos várias lojas e nada do troço, Evangel desistiu da busca.
Como já era quase onze horas, decidi ir até a loja de brinquedos da Cíntia e nos dirigimos à Rua da Alfândega. Ao ver-me entrar na loja, Cíntia veio em minha direção, dizendo-me:
- Que prazer revê-lo! Pensei que não o veria mais!
- Eu disse que viria e aqui estou!
- Venha até minha mesa... Vamos ver o que lhe interessa!
Peguei em seu ombro e ela, agora a locomotiva, nos guiou até um canto da loja e, indicando algumas cadeiras, mandou que sentássemos.
Sentamos diante da sua mesa e ela chamou um rapaz:
- Rodrigo, por favor!
O moço aproximou-se e disse:
- Pois não, Dona Cíntia!
- Aguarde um pouco, Rodrigo. Vejamos o que meu amigo Luís deseja!
- Eu queria ver umas bonecas, carrinhos e outras coisas interessantes, mas que sejam baratinhos!
- Tudo aqui é baratinho, Luís! - disse ela sorrindo. - Rodrigo, pegue aquelas bonecas chinesas, os mini-games e alguns carrinhos de fricção!
- Está bem, Dona Cíntia! - disse o rapaz.
Assim que o rapaz saiu, Ednilson, levantando-se, falou:
- Olha companheiro... Já que você vai comprar seus brinquedinhos, vou dar um giro por aí e nos encontraremos no restaurante da Rosa!
- Eu vou com você, Ednilson! - disse Evangel.
Eles deram tchau para Cíntia e se foram. Reinaldo ficou comigo, pois tinha interesse em comprar um mini-game. Enquanto o rapaz não voltava, ficamos proseando:
- Cíntia, pensei que você fosse funcionária da loja, mas vejo que é a gerente!
- Não, Luís! Sou uma das donas! Eu e minha irmã somos sócias em duas lojas. A outra fica em Niterói e ela é quem toma conta!
- Que legal! - disse Reinaldo.
- Por isso que a encontrei tão cedo?
- Sim! Costumamos abrir as lojas antes das nove e temos que chegar mais cedo para arrumarmos as coisas!
- Você mora perto?
- Que nada... Moro em Niterói!
- Caramba! É longe pra zorra!
- Pois é... Todo dia atravesso a Ponte duas vezes!
- Deve ser um saco, né? - perguntou Reinaldo.
- Que nada... Já acostumei que nem percebo a distância!
Nesse momento Rodrigo colocou sobre a mesa diversos brinquedos. Havia carrinho, boneca, mini-game, bichinho plástico, boneco articulado e quadro magnético, entre outros.
- Aqui estão, Luís! Pode escolher!
- O mini-game quem quer é o Reinaldo, mas se o preço for bom, levarei alguns!
- Tenho certeza que você vai gostar dos nossos preços!
- Isso é que é vendedora! - falei sorrindo. - Mas eu sou mão-de-vaca e adoro pechinchar! Hahahahahaha!
Reinaldo e Cíntia sorriram.
- Com os nossos preços não haverá essa necessidade... Além do mais, esses mãos-de-vaca quando entram aqui acabam abrindo a mão! Hahahaha!
- Isso depende do mão-de-vaca, Cíntia! Você não conhece esse aí! Disse Reinaldo a sorrir.
Todos rimos.
Cerca de uma hora depois eu comprará tudo que queria e Reinaldo o mini-game. Ao passar o cartão para debitar em conta, a senha não entrou de maneira alguma e Cíntia aceitou que eu fizesse o pagamento em cheque, embora não fosse esse o procedimento "normal" ali no Saara.
Ao nos despedirmos, pedi-lhe que nos indicasse para que lado ficava a Rua Luís de Camões, pois almoçaríamos por lá.
- Se você aceitar, posso levá-los! - disse Cíntia.
- Claro que aceitamos, mas com uma condição: que você almoce conosco!
- Aceito a condição... Vamos!
- Vamos! Conclui.
Cíntia deu algumas ordens ao Rodrigo, pegou minha mão e a colocou em seu ombro e saímos.
FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO
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