Carpe Diem
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Apurar os sentidos - 07/12/2007
Carpe Diem

'

“Aquela poderia ser mais uma manhã, como outra qualquer. Eis que o sujeito desce na estação do metrô. Vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal. Mesmo assim, durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes. Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes Bell havia tocado no Simphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares.” (O Verdadeiro Luxo, artigo de Márcia Bindo, publicado pela Revista Vida Simples, Edição 60, Dezembro de 2007).

Todos os dias quando subo a Serra da Mantiqueira, a caminho do trabalho, em Campos do Jordão, sou agraciado com a possibilidade de vislumbrar a exuberante paisagem natural que abraça a malha de asfalto que leva as pessoas àquela localidade. São inúmeras as espécies vegetais e animais que povoam aquela mata. Árvores, flores, arbustos, cachoeiras, raposas, esquilos, aves das mais variadas espécies e algumas outras surpresas podem ser vistas todos os dias por aqueles que por ali passam...

Depende apenas de apurarmos os sentidos... De olharmos com profundidade... De irmos além daquilo que é óbvio e evidente aos nossos sentidos... Temos que aprender a ler o mundo em suas entrelinhas...

E o que temos feito até o presente momento? Na maioria dos casos apenas perambulamos pelo mundo com nossos sentidos direcionados como se fôssemos cavalos puxando carroças, orientados pelo cabresto e mobilizados pela força do chicote que é batido em nossos lombos... Não aprendemos a diferenciar sabores... Raramente somos educados para apreciar a música em sua totalidade... Desprezamos a diversidade das cores e tons... Poucas pessoas são capazes de realmente discernir odores e fragrâncias... Estamos perdendo até mesmo a força do toque, do tato, do encontro físico...

Preferimos à virtualidade... Escolhemos a distância e a ausência... Vivemos nos desencontrando... Comemos aquilo que é pasteurizado, sem sabor, sem gosto... Nossas existências estão perdendo o calor, as emoções... Desconectados dos homens e da natureza, vivemos existências tristes e tentamos compensar consumindo...

Trocamos as sensações profundas de prazer e satisfação, que se constroem ao longo do tempo - com parcimônia, paciência e sabedoria – por experiências fugazes, velozes, inodoras, insípidas e incolores...

Hoje, nas escolas, se ensina eficiência. Mercado é a palavra-chave do ensino e da vida. Produção, consumo e lucro superam longe qualquer idéia relacionada à espiritualidade, valores e sentimentos...   

A curta narrativa que inicia essa reflexão, que nos conta a história de Joshua Bell e seu violino Stradivarius, tocando ininterruptamente por 45 minutos na entrada de uma estação de metrô é apenas um indicativo de como estamos ficando insensíveis... O que aconteceu com Bell está também ocorrendo com o planeta, devastado pelo aquecimento global... Situações semelhantes são aquelas em que pessoas morrem de fome por falta de solidariedade ou assistência... Tudo isso igualmente nos faz lembrar dos analfabetos, das vítimas das guerras, dos agredidos em virtude da intolerância, dos jovens que perdem a vida em função das drogas,...

Que mundo é esse que estamos construindo?

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas
COMPARTILHE

DeliciusDelicius     DiggDigg     FacebookFacebook     GoogleGoogle     LinkedInLinkedIn     MySpaceMySpace     TwitterTwitter     Windows LiveWindows Live

AVALIE O ARTIGO





INDIQUE ESTE ARTIGO PARA UM AMIGO










4 COMENTÁRIOS

1 LUIZA BRINGEL - CRUZ DAS ALMAS
CONCORDO COM SEU MOMENTO VIVIDO...SOFRIDO...REFLEXIVO...JÁ PESEI ASSIM HOJE VIVO A VIDA!ME DESLIGUEI DE MUITAS COISAS...OBSERVO TUDO QUE SE PASSA PERTO OU LONGE DE MIM...DENTRO DAS MINHAS EXPECTATIVAS SOU FELIZ...TENTO ALIVIAR O SOFRIMENTO DO OUTRO,MAS EXISTEM CRUZES QUE SÓ O DONO PODE CARREGAR...ASSIM COMO JESUS CARREGOU A SUA E A ÚNICA PESSOA QUE TENTOU AJUDÁLO PERCEBEU QUE NÃO IRIA AGUENTAR...LARGANDOA E SOFRENDO POR NADA PODER FAZER A NÃO SER ESPERAR PARA VER A VITÓRIA...ESTA É CERTA PARA AQUELES QUE CONFIAM EM DEUS...FAÇO SEMPRE TUDO QUE ESTÁ AO MEU ALCANCE PELO OUTRO...O QUE NÃO POSSO FAZER PROCURO QUEM PODE...MUITO BOA AS SUAS VIVENCIAS ...PARABÉNS...
12/02/2010 17:41:45


2 Cidinha Goes - São Paulo
O artigo sobre Carpe diem é muito interessante, e real levando o leitor no mínimo para a reflexão.
08/09/2009 08:51:58


3 Tereza - Gja
Nada neste mundo substitui o compartilhar, o prazer de estar junto, gozar de uma boa música...O virtual, não...Muito melhor escutar a voz do outro com mais proximidade, mais profundidade, olhar nos olhos...sentir a pele! Mundo capitalista esse que nos consome e vamos sendo consumidos sem percebermos que o amanhã é agora...Aprender a aprender, aprender a pensar...não fomos criados para isso, somos brasileiros! Desde que me conheço por gente ( e olha que já estou bem grandinha) o ato de criticar (entenda-se opinar positivamente ou não) sempre foi aliado à cautela. Bom, é isso...devaguei mais uma vez...o que não podemos perder nunca, é a sensibilidade perante qualquer situação. Quando isso ocorre, morremos por dentro. Abraços, TC
21/05/2008 19:22:55


4 Jeni Balbino dos Reis - Cubatão
Concordo plenamente com esta reflexão, realmente vivemos tempos em que as pessoas não valorizam o que realmente é importante. Talvez isto esteja acontecendo por desconhecerem os fatos reais. No filme o oitavo dia, o ator que interpreta Georges é um jovem francês, com síndrome de Down, que mostrou que talento é resultado de dedicação e esforço. Ele teve o entendimento necessário para levar, ao cinema, a angústia do preconceito e a possibilidade da superação através da gentileza que nasce da amizade, que nasce do amor. Para o professor, o entendimento é ainda mais fundamental, porque não se pode ensinar sem entender o aluno. E o aluno não aprende se não entende. É praticamente uma relação de companheirismo.
04/01/2008 20:54:19


ENVIE SEU COMENTÁRIO

Preencha todos os dados abaixo e clique em Enviar comentário.



(seu e-mail não será divulgado)


Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.