O Xangô de Baker Street -
Sherlock Holmes visita o Brasil de Pedro II
O inteligente e charmoso apresentador de TV e humorista Jô Soares causou grande impacto a algum tempo atrás ao lançar seu livro "O Xangô de Baker Street". História muito original que nos apresenta o detetive mais famoso da literatura mundial, Sherlock Holmes, sendo convidado por D. Pedro II (pouco antes do fim de seu extenso reinado em terras tupiniquins) para visitar o Brasil e solucionar um crime para lá de complexo. Assessorado por seu fiel "Sancho Pança", o conhecido Dr. Watson, Sherlock desembarca num Rio de Janeiro que só conhecemos através de fotografias em preto e branco ou em pinturas.
As ruas de terra batida, os escravos trafegando com seus cestos de vime a carregar produtos pelos quatro cantos da cidade, as barraquinhas nas praças, os prédios de construção característicamente colonial, as roupas que reproduzem um pouco do charme de um Brasil à francesa (se hoje somos americanizados, naquela época, curtíamos muito os hábitos e a cultura da França), a exposição de frutas e doces típicos do nosso país, as carruagens e os cavalos como principais meios de transporte, tudo isso aparece na transposição para as telas do best-seller de Jô Soares. O próprio apresentador de talk-shows faz ponta na trama como um atrapalhado desembargador.
Levar para as telas qualquer livro de sucesso costuma ser tarefa das mais complicadas, invariavelmente os roteiristas e os diretores que encaram tal encargo sofrem muitas críticas mesmo tendo caprichado nos mínimos detalhes, mesmo tentando ser o mais fiel possível ao texto original. As comparações são inevitáveis, quem leu o livro e depois assiste ao filme costuma achar que o preto no branco é insuperável (até mesmo por conta da possibilidade que temos de imaginar a ação, os personagens, os ambientes,...) e, raramente, admite que uma filmagem possa superar as letras.
Só para nos situarmos, a recente produção do mega-sucesso literário "Harry Potter e a pedra filosofal", grandioso sucesso de bilheteria nos cinemas do mundo inteiro, apesar de ter sido acompanhado durante toda a sua produção pela autora J. K. Rowling, foi considerado inferior ao livro pelos maiores experts em Harry Potter, as crianças e os adolescentes que leram a série completa.
Mesmo assim, o filme "O Xangô de Baker Street", do diretor Miguel Faria Jr., atendendo as espectativas dos fãs dos livros de Jô Soares (além do delicioso "Xangô", há o ótimo "O homem que matou Getúlio Vargas"), manteve não apenas a fidelidade a proposta original do material escrito como ainda se deu ao trabalho de realizar uma esmerada realização visual, conforme dissemos anteriormente, tentando nos fazer viajar no tempo e voltar para um Rio de Janeiro que só existe em registros fotográficos ou em descrições de escritores, jornalistas e cronistas daquela época. E como era interessante a cidade naquele distante final de século XIX. Apesar dos evidentes problemas sanitários e higiênicos, das ruas esburacadas, do porto que era um local muito propício a propagação de doenças e de muitas outras dificuldades, a capital do Brasil parecia ser um lugar mais humano e aprazível.
Personagens históricos como o citado D. Pedro II, Santos Dumont, Olavo Bilac, Chiquinha Gonzaga, Sarah Bernhardt e outros alternam-se na tela com a criação máxima de Arthur Conan Doyle, o fantástico detetive Sherlock Holmes (numa impagável interpretação do ator português Joaquim de Almeida) e seu acompanhante de todas as grandes tramas policialescas, o Dr. Watson (um inspirado Anthony ODonnell). Para compor um elenco de grandes atores, o filme teve no inspetor Mello Pimenta (o fabuloso Marco Nanini) o fio condutor da trama. Foi dele a idéia de chamar o detetive inglês para ajudar na solução do roubo do violino dado por D. Pedro (Cláudio Marzo) a jovem baronesa (Cláudia Abreu).
Quando Holmes chega ao Brasil para encontrar o violino (tratava-se de um caríssimo Stradivarius), acaba se envolvendo na solução de um outro delito, de caráter muito mais violento, práticado em série, provavelmente por um mesmo marginal. Prostitutas, assassinadas com brutalidade, que são encontradas com seus corpos dilacerados e com um fio de um instrumento musical preso a seus pelos pubianos.
Apesar de toda a seriedade envolvida na solução desse mistério, o bom humor de Jô Soares prevalece em toda a trama. Do início ao fim são várias as sequências e situações onde o humor fino, requintado do autor do livro se mostram presentes. Momentos como o jantar em que D. Pedro recebe Sherlock e o convida a provar as delícias da culinária brasileira ou, quando Watson entra num boteco e pede um copo de pinga são hilariantes. O romance entre Holmes e a dançarina negra rendem momentos engraçadíssimos e quando os orixás resolvem baixar em Watson ...
Tive a oportunidade de assistir o filme no cinema e depois levei algumas turmas de ensino fundamental e médio para que pudéssemos aproveitar o recurso em sala de aula. Estávamos estudando o Brasil de Pedro II na transição para a República. Conhecer o Rio de Janeiro, centro político do país naquela época e poder compará-lo com fotos e desenhos (como os de Debret, por exemplo), atentar para personagens importantes (Bilac, Santos Dumont, Pedro II, Chiquinha Gonzaga) ou para os hábitos brasileiros (típicos de nossas terras ou importados pela elite) permitiram as turmas que foram ao cinema uma visão mais ampliada do período. Colocar no papel depois, ficou muito mais fácil!
Ficha Técnica
O Xangô de Baker Street
País/Ano de produção:
Brasil, 1999
Duração/Gênero: 118 min.,
Comédia/Suspense
Disponível:- VHS e DVD
Direção de Miguel de Faria
Jr.
Roteiro de Patrícia Melo, Miguel de
Faria Jr. e Marcos Bernstein
Elenco: Marco Nanini, Joaquim de Almeida,
Maria de Medeiros, Marcelo Antony,
Cláudia Abreu, Jô
Soares, Cláudio Marzo.
Links
- http://www.adorocinema.com/filmes/xango-de-baker-street/xango-de-baker-street.htm
1 Messias -
Santos Dumont não aparece no livro nem no filme.
A idéia de contratar Holmes não foi do delegado e sim da atriz Sarah Bernhardt que estava no Brasil na época.
13/11/2011 09:18:32
2 Messias -
Santos Dumont não aparece no livro nem no filme.
A idéia de contratar Holmes não foi do delegado e sim da atriz Sarah Bernhardt que estava no Brasil na época.
13/11/2011 09:17:11
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