Brasil: A eterna promessa... - 05/11/2007
Sem pesquisa e desenvolvimento não progrediremos
"As empresas brasileiras têm poucos cientistas, e não sabem utilizar o potencial de pesquisa e inovação proporcionado pela interação com as universidades e institutos de pesquisa. Este é um importante fator para explicar por que as atividades de pesquisa e desenvolvimento no Brasil ainda são fortemente dominadas pelo setor público.” (Apenas 16% dos cientistas do país estão em empresas, artigo publicado pelo jornal "O Estado de São Paulo", do dia 05 de Novembro de 2007, de autoria de Fernando Dantas).
Vender, vender e vender. O verbo mais conjugado nas empresas do país demonstra claramente o espírito que domina o mercado e orienta as ações do empresariado nacional. E que produto ou serviço iremos vender? A resposta, óbvia aos olhos desses mesmos investidores e fomentadores de negócios, é também bastante clara e objetiva, ou seja, vamos vender o que o mercado quer comprar.
Isso inclui desde automóveis populares a produtos para animais domésticos, de cirurgias plásticas (e lipo-aspiração) a apartamentos de 2 ou 3 dormitórios, de bebidas diet a revistas de fofocas... Não há limites para o consumo. E quem abastece o mercado acompanha as tendências e procura tirar seu quinhão de rendimentos daquilo que está em voga entre os compradores.
E de onde vem esses produtos? Como eles são desenvolvidos e inseridos no mercado? De que forma o público toma conhecimento dos mesmos e demonstra interesse e disposição para adquiri-los? Ou ainda, afinal de contas, porque tal tema está sendo trabalhado no editorial de um portal de educação, como o Planeta Educação?
Vamos então por partes... Uma pergunta de cada vez. Iniciemos pela primeira delas, justamente aquela que orienta mais firmemente esse texto e que se relaciona de forma mais direta e explícita com o título do presente artigo.
De onde vem os produtos que invariavelmente compramos em lojas, supermercados, shopping centers, feiras, eventos ou mesmo no comércio popular? Em se tratando do Brasil muitas pessoas já constataram que temos duas linhas básicas de produtos sendo ofertados em nossos pontos de venda e revenda, ou sejam: os legalizados e os contrabandeados (e ilegais).
Nesse momento também começamos a explicar os motivos que nos levam a escrever esse texto para um portal educacional... A princípio imaginamos que a partir de nossas casas, ou seja, no seio familiar, contaríamos com orientação para que nossas compras fossem sempre direcionadas para os produtos legalizados...
Mas o eterno “jeitinho brasileiro” nos impede de privilegiar tais mercadorias, que obviamente custam mais caro, pois nelas incidem custos “básicos” como mão de obra, matérias-primas, desenvolvimento, maquinário, tecnologias, impostos (altíssimos em se tratando do Brasil),...
A pirataria oferece produtos a preços mais baixos pois não paga os custos do desenvolvimento, impostos e nem tampouco gera empregos.
Por isso produtos como CDs, DVDs ou softwares em terras brasileiras são predominantemente pirateados, ou seja, adentraram ilegalmente nosso mercado. E o que isso significa? Que os desenvolvedores dos produtos acima citados e de muitos outros (brinquedos, roupas, calçados, equipamentos eletrônicos, remédios, alimentos,...) foram lesados com o roubo de suas idéias e produtos e, como conseqüência disso, perdem força para investir e diversificar suas atividades, gerando mais produtos e, provavelmente ao final de tudo isso, podendo até mesmo ofertar suas mercadorias a preços melhores no país.
Isso em se tratando de produtos pirateados e que, ilegalmente alimentam um enorme e bastante consistente mercado informal que está espalhado por praças, feiras e locais de grande movimento nas cidades brasileiras. Multiplicam-se então os trabalhadores que vivem na ilegalidade, sem carteira assinada, não contando com os benefícios das leis do trabalho e que, caso não agissem dessa forma, poderiam até mesmo estar empregados nas empresas das quais, literalmente, “surrupiam” idéias, serviços, pesquisas, produtos,...
Mas o ponto central desse artigo não são os produtos provenientes do contrabando que lesa empresas, cofres públicos e os próprios trabalhadores. Queremos destacar que além disso, o país e seus empresários pouco ou nada diferem das pessoas que simplesmente copiam produtos e os colocam a venda nos milhares de pontos de venda do Brasil. E porque afirmo isso?
Pelo fato de que, infelizmente o setor de vendas e comercialização de produtos é o que realmente importa para a maior parte do empresariado nacional e que isso redunda num baixíssimo investimento e crença no potencial de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos produtos e serviços, sem a dependência das idéias importadas de outros centros, nos quais P&D é encarada com seriedade e vista como fundamental.
O que estamos fazendo no Brasil é apenas reproduzir idéias japonesas, alemãs, americanas, espanholas, italianas, australianas, coreanas,... Não é a toa que, por exemplo, setores importantes e lucrativos da economia nacional estejam passando para o domínio de multinacionais européias, orientais ou norte-americanas... O segmento de telefonia, a concessão de direitos sobre as estradas, as usinas de produção de eletricidade, metalúrgicas e siderúrgicas, indústrias químicas, o setor alimentício (industrial e comercial),...
Não aprendemos a fazer por conta própria. Somos apenas reprodutivistas. Acompanhamos, por ironia, o modelo tradicional que impera em nossas escolas (mesmo que os professores digam que não e se mostrem ofendidos com a afirmação), ou seja, apenas copiamos fórmulas. Não demonstramos capacidade e condição de criar, de desenvolver, de fomentar novidades que se tornem mundiais...
O que leva os Estados Unidos, a Europa e os países do leste asiático a se interessar pelo etanol brasileiro? A pesquisa vem sendo realizada e desenvolvida desde os anos 1970, com o Pró-álcool... Será coincidência? (Na foto, George Bush e Lula em reunião no Brasil no ano de 2007, em que o tema principal foi o etanol brasileiro).
Será que somos incapazes e que nosso papel no cenário mundial é o de mão de obra terceirizada, ou seja, a de mais um país onde as fábricas e empresas comerciais se estabelecem apenas para explorar os recursos aqui presentes nos deixando parcelas minguadas de seus rendimentos e exportando para suas matrizes e centros de desenvolvimento e pesquisa os lucros mais polpudos?
Sinceramente não acredito nisso. Ao destacar o trecho de uma reportagem do Estadão, trago também a tona a idéia de que existe pesquisa no país (somos os 17º país no ranking mundial de desenvolvedores), mas ressalto que essas preciosidades estão ainda, em sua maioria esmagadora, sendo utilizados por empresas ligadas ao estado nacional ou encerradas no ambiente acadêmico.
A negligência das empresas em construir pontes com o mundo da ciência também está na raiz do baixo nível de inovação do setor produtivo nacional, apesar do razoável desempenho científico do País - em 2005, o Brasil foi o 17º maior produtor de ciência no mundo, medindo-se pela publicação de trabalhos em publicações especializadas. (Apenas 16% dos cientistas do país estão em empresas, artigo publicado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, do dia 05 de Novembro de 2007, de autoria de Fernando Dantas).
Num momento como o atual, em que os combustíveis alternativos se tornam cada vez mais fortes no cenário mundial e que, o etanol, receita brasileira pesquisada desde o final dos anos 1970, é considerado como uma das melhores respostas para o esgotamento das reservas internacionais de petróleo (e conseqüente aumento de preços no mercado), fica ainda mais claro como o investimento em P&D diferencia países e empresas, estimula a economia e gera ganhos a médio e longo prazos.
Mas essa mentalidade dominante, típica de países colonizados, que durante séculos se especializaram apenas em exportar “bananas” (café, cana de açúcar, tabaco, algodão,...), não é mudada da noite para o dia. A cultura estabelecida há séculos nos tornou dependentes dos demais centros, que em muitos casos ainda são como as antigas metrópoles do período colonial. Desafiar esse modelo, essa estrutura e a própria cultura estabelecida, é tarefa para gigantes...
Espero apenas que o Brasil, eterna promessa de país do futuro, deixe de ser um “gigante adormecido” e acorde a tempo...
1 valencia menezes laudeauzer - RJ
João luis Almeida Machado, seu artigo nos lembra quanto devemos cuidar e nos responsabilizar, principalmente no ano que vem " ano de eleição". Darei seu artigo para o professor de minha filha de geografia. Estão estudando a américa do norte. Bom artigo para pensar. um abraço.
11/11/2007 10:00:10
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