Uma Onda no Ar -
A Verdadeira
Ligue o rádio e sintonize qualquer estação. São sete horas da noite, estamos numa cidade qualquer do Brasil, entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980. O que deveria ser uma busca por músicas acaba se tornando uma chateação. Aquilo que poderia ser um momento de relaxamento e descontração, embalado por músicas de Milton Nascimento, Caetano Veloso ou Gilberto Gil ou ainda pelos ritmos que agitavam as "discotecas" (as atuais danceterias), tornava-se uma autêntica tortura, digna de figurar entre as mais sofisticadas técnicas utilizadas pelos algozes dos porões da ditadura militar que vigorou no país entre 1964 e 1984.
A "Hora do Brasil", programa oficial de notícias do governo brasileiro, institucionalizado com o objetivo de informar a população em relação às novidades políticas e econômicas definidas pelo Congresso e pelo Palácio do Planalto, desde o seu princípio foi encarado pelos ouvintes como um remédio amargo. E o pior é que na maioria das vezes tínhamos que tomar sem que nem ao menos estivéssemos precisando.
Tratava-se de uma ferramenta utilizada pelo regime ditatorial para divulgar suas "verdades" e consolidar suas "realizações". Seu compromisso era o de assegurar que uma boa imagem do governo estivesse chegando a todos os brasileiros, mesmo aqueles que viviam em localidades distantes. Além das violências perpetradas aos inimigos do regime nos calabouços do DOPS ou do DOI-CODI, a ditadura militar brasileira apoiou-se numa ferrenha censura aos meios de comunicação, utilizou-se da infiltração de espiões em grupos estudantis e operários, manipulou programas de televisão e ao estabeleceu uma política educacional que objetivava o surgimento de uma geração desprovida da capacidade de análise crítica e exercício da cidadania.
Entretanto, no final dos anos 1970, vários movimentos passaram a questionar o cenário político nacional, lutando vigorosamente por maior liberdade de expressão e participação. Entre eles poderíamos citar as greves promovidas pelos metalúrgicos da região do ABC paulista (batismo político do ex-torneiro mecânico e atual presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva); o movimento pela Anistia ampla, geral e irrestrita que pretendia a libertação dos presos políticos e o retorno dos exilados; e, alguns anos depois, já no início dos anos 1980, as Diretas-Já, quando os brasileiros foram as ruas em diversas capitais e cidades do interior clamar pela escolha do presidente através do voto livre.
No início dos anos 1980, como uma repercussão dos novos tempos que se iniciavam no país, em que se buscava com grande vigor a efetivação da liberdade de expressão, surgiram as primeiras rádios clandestinas. Eram verdadeiramente artesanais, montadas por amadores, que nada recebiam pelos seus préstimos. Não tinham a retórica dos sindicatos, tampouco o vocabulário requintado das universidades e dos acadêmicos. Não foram entendidas, no princípio, como formas de resistência às arbitrariedades da ditadura, nem mesmo pelas pessoas que as propuseram e as realizaram na clandestinidade.
Por sinal, o parentesco com a luta contra o regime parecia ser apenas a sua condição clandestina, ilegal, ilícita nos conformes da lei que vigorava até então. Entre elas, a Rádio Favela, de Belo Horizonte. A princípio uma voz do Brasil excluído, dos morros e favelas, dos negros aprisionados pelos policiais sem qualquer motivo que não a própria cor da pele. Posteriormente, um instrumento da comunidade organizada, em luta contra as mazelas sociais, as dificuldades da comunidade pobre, carente de escolas, de saúde, de lazer...
O Filme
Os amigos Jorge, Zequiel, Roque e Brau (respectivamente interpretados por Alexandre Moreno, Adolfo Moura, Babu Santana e Benjamin Abras) moram numa favela de Belo Horizonte. Apesar das mesmas origens humildes e da grande amizade que os une, tem uma perspectiva de vida diferente. Enquanto Jorge termina o 2º Grau e pretende ir para a faculdade (o grande sonho de sua mãe); Zequiel já se integrou ao mercado de trabalho numa loja de produtos elétricos e eletrônicos; Brau quer ser artista (músico e dançarino) e se prepara para isso; Roque, no entanto, caiu na marginalidade e busca o caminho do dinheiro fácil do tráfico de drogas no morro.
Apesar dos caminhos distintos que pretendem seguir, os amigos resolvem investir num empreendimento conjunto, uma rádio pirata, que funcionaria no morro onde vivem, clandestinamente. Para isso esboçam o projeto e arregaçam as mangas para conseguir os meios que lhes permitam comprar os equipamentos e peças necessários a estruturação de sua base de transmissão de música e informações.
Querem superar as condições adversas e criar consciência entre a população de sua comunidade. Não querem virar marginais e sim, pessoas que prestam um benefício social e promovem o crescimento da estima local. A exceção é Roque, que desiste do projeto e prefere ficar na ilicitude da distribuição de tóxicos e entorpecentes.
A despeito da disposição dos amigos, as autoridades não parecem dispostas a aceitar, num período de intensa repressão, uma voz popular e livre a criticar as ações dos governantes e policiais, que se proclama como a verdadeira "voz do Brasil" e atinge toda a grande BH (e não apenas a área da favela).
A
história verídica da Rádio
Favela, romanceada para as telas por Jorge Durán
e pelo diretor Helvécio Ratton ("Amor
e Cia.", "O Menino Maluquinho") nos
coloca diante dos caminhos a serem percorridos arduamente
pelos fundadores de um empreendimento comprometido
com o lugar onde surgiu e que, através das
ondas sonoras, atingiu toda Belo Horizonte e o Brasil
(através de sua história adaptada
para as telas) para estimular a cooperação,
a cultura popular e a liberdade de expressão...
Aos Professores
1- De que forma ocorre à propagação das ondas sonoras? Por que existem rádios FM e AM (ou OM)? Qual é a diferença operacional entre a televisão e o rádio quanto à propagação de seus sinais? De que forma se poderia montar uma rádio? Os professores de Física poderiam estimular, a partir do filme, a estruturação de uma rádio que operasse na escola. Em comum acordo com os alunos e a direção e, contando com o apoio dos professores de outras disciplinas (história, português, inglês, matemática, artes,...), poderiam criar uma programação e colocar em funcionamento em horários como os intervalos. Existe melhor maneira para entender e responder as questões iniciais?
2- A Rádio Favela foi premiada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em virtude de seu trabalho de caráter comunitário. Atualmente é identificada como uma Rádio Comunitária. O que significa realizar trabalhos comunitários? Existem instituições identificadas como tal em seu município? Que tal fazer uma pesquisa de campo e descobrir de que forma atuam essas organizações? Se os alunos pudessem realizar um trabalho comunitário, que projeto realizariam? Que tal propor a criação de projetos comunitários a serem realizados a partir da escola?
3- A ditadura ainda estava em vigor no período em que a Rádio Favela nasceu. Na prática esse regime político significou uma série de restrições as liberdades individuais no Brasil. As reações do final dos anos 1970, como as greves dos metalúrgicos do ABC, o movimento pela Anistia e as "Diretas Já" foram significativas para que os militares saíssem do governo e permitissem a redemocratização. Peça aos alunos que pesquisem em jornais, revistas ou na internet o que foram esses movimentos. Uma outra alternativa interessante seria pedir entrevistas com pessoas que viveram essas situações, como sindicalistas, políticos cassados e expulsos do país ou mesmo os pais, tios, avós e conhecidos dos alunos, que se não viveram isso na prática, acompanharam através da mídia da época.
4- Quais eram as músicas que tocavam nas rádios no final dos anos 1970 e início dos anos 1980? Monte um repertório que procure expressar, com fidelidade, o que era escutado nas rádios do país naquele momento de nossa história. Que grupos de rock faziam sucesso? Quais eram os grandes expoentes da MPB? Existia contestação a ditadura na música de então? A música foi utilizada pelo regime repressor?
Ficha Técnica
Uma Onda no Ar
País/Ano de produção:-
Brasil, 2002
Duração/Gênero:-
92 min., Drama
Disponível em VHS e DVD
Direção de Helvécio
Ratton
Roteiro de Jorge Durán e
Helvécio Ratton
Elenco:- Alexandre Moreno, Adolfo
Moura, Babu Santana, Benjamin Abras,
Edyr Duqui,
Priscila Dias, Renata Otto, Hamilton Borges Walê,
Tião DÁvilla.
Links
- http://www.cineclick.com.br/criticas/index_texto.php?id_critica=640
- http://www.adorocinema.com/filmes/onda-no-ar/onda-no-ar.htm
-http://www.cinemaemcena.com.br/cinemacena/crit_editor_filme.asp?cod=259
1 OSÉAS DE ALMEIDA - Juiz de Fora mg
Parabéns pelo grande filme.
Sou professor de um curso para adolescentes de 12 a 17 anos em vulnerabilidade social, ou seja, meninos de bairros pobres e favelas de Juiz de Fora.
Todo ano passo esse filme para eles e no final eles aplaudem com entusiasmo.
Esse filme toque em muitos aspectos da vida deles de uma forma com muita verdade. Eles se veem no filme. Casos que acontecem no dia dia de qualquer área esquecidas pelos nosso governantes.
Parabens Adolfo Moura e os demais atores. Show de bola!!!
Como faço para trazêlos aqui???
15/01/2009 22:48:56
2 adolfo moura - são paulo
sou supeito pra falar mas esta é uma obra que me ogulho de ter participado, serei eternamente grato, direção,atores e equipe técnica...
14/11/2007 17:14:34
3 bruna ribeiro rocha dias - rio de janeiro
A hora do brasil ,hoje se chama voz do brasil ,continua sendo trasnmitida pelas estações de rádios.
23/05/2007 17:17:17
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