“Para entender é preciso esquecer quase tudo o que
sabemos. A sabedoria precisa de esquecimento. Esquecer é
livrar-se dos jeitos de ser que se sedimentaram em nós, e
que nos levam a crer que as coisas têm de ser do jeito como
são. (...)”. (Rubem Alves)
O
movimento inclusivo já é real em alguns lugares.
A sociedade está sofrendo mudanças fundamentais
precisam ser efetivadas e adaptadas às novas
exigências, como a capacidade solidária entre as
pessoas.
O
homem mudou consideravelmente a sua história, seus rumos,
seu eco-sistema, muitas foram às
modificações ocorridas pelos avanços
da ciência, contudo há muitas pessoas em grave
sofrimento, quer seja por fome, desamparado, injustiça
social, preconceito, perseguição
política, tragédias dentre outros fatos sociais.
Percebemos
cada vez mais textos e publicações falando de
inclusão, seus benefícios, seus sucessos quer
sejam no âmbito da educação, no mundo
do trabalho ou nas relações entre pessoas, mas
carecemos de mudanças que caminham ainda a passos curtos.
A
sociedade do terceiro milênio é uma sociedade em
que não há mais espaço para a
exclusão. A inclusão é um dos
princípios fundamentais para a
transformação humanizadora desta sociedade do
terceiro milênio.
É
ainda muito difícil pensar que a
educação tem seu movimento lento, porque
exatamente seu objeto de intervenção é
a criança, e sendo ser humano temos tempo para maturar tudo
e isso leva anos. Qualquer que seja a
transformação na educação
ela é paulatina, mas isso não impede de
construirmos atitudes e práticas em nosso cotidiano com o
devido tempo e cuidado.
A
escola urge em sua mudança estrutural, é
impossível falarmos de Educação
Inclusiva com as escolas ainda funcionando com séries,
currículos fechados e ou adaptações
curriculares e avaliações formatadas, com
professores trabalhando sozinhos e com práticas
reducionistas ou adaptadas.
Urgimos
da mudança de funcionamento do sistema escolar por ciclos,
currículos individuais, progressão continuada,
avaliações continuas e
auto-avaliações, respeitando a individualidade de
TODOS os alunos. Uma educação pautada na
cooperação, na criatividade, na
reflexão crítica, na solidariedade, uma
educação libertária e emancipadora.
Avançando
nas práticas inclusivas
De
acordo com o Seminário Internacional do Consórcio
da Deficiência e do Desenvolvimento (International Disability
and Development Consortium - IDDC) sobre a
Educação Inclusiva, realizado em março
de 1998 em Angra, na Índia, um sistema educacional
só pode ser considerado inclusivo quando abrange a
definição ampla deste conceito, nos seguintes
termos:
* Reconhece que todas as crianças podem aprender;
* Reconhece e respeita diferenças nas crianças:
idade, sexo, etnia, língua,
deficiência/inabilidade, classe social, estado de
saúde (HIV, Tuberculose, Hemofilia, Hidrocefalia, ou
qualquer outra condição);
* Permite que as estruturas, sistemas e metodologias de ensino atendam
as necessidades de todas as crianças;
* Faz parte de uma estratégia mais abrangente de promover
uma sociedade inclusiva;
* É um processo dinâmico que está em
evolução constante;
* Não deve ser restrito ou limitado por salas de aula
numerosas nem por falta de recursos materiais.
Estas
perspectivas históricas levam em conta a
evolução do pensamento acerca das pessoas com
deficiência ao longo dos últimos
cinqüenta anos, no entanto, elas não se desenvolvem
simultaneamente em todos os países, e
conseqüentemente retrata uma visão
histórica global que não corresponde ao mesmo
estágio evolutivo de cada sociedade.
Estas
perspectivas são descritas segundo Peter Clough:
1. O Legado Psico-médico ou clínico: (predominou
na década de 50) vê o indivíduo como
tendo de algum modo um deficit/patologia e por sua vez defende a
necessidade de uma educação especial para aqueles
indivíduos.
2. A Resposta Sociológica: (predominou na década
de 60) representa a crítica ao legado
psico-médico, e defende uma construção
social de necessidades educativas especiais.
3. Abordagens Curriculares: (predominou na década de 70)
enfatiza o papel do currículo na
solução e, para alguns escritores, eficazmente
criando - dificuldades de aprendizagem.
4. Estratégias de Melhoria da Escola: (predominou na
década de 80) enfatiza a importância da
organização sistêmica detalhada na
busca de educar verdadeiramente.
5. Crítica aos Estudos da Deficiência: (predominou
na década de 90) frequentemente elaborada por agentes
externos à educação, elabora uma
resposta política aos efeitos do modelo exclusionista do
legado psico-médico.
Um
acordo foi celebrado em 25 de agosto de 2006 em Nova Iorque, por
diversos Estados em uma convenção preliminar das
Nações Unidas sobre os direitos da pessoa com
deficiência o qual realça, no artigo 24, a
Educação Inclusiva como um direito de todos.
O
artigo foi substancialmente revisado e fortalecido durante as
negociações que começaram
há cinco anos. Em estágio avançado das
negociações, a opção de
educação especial (segregada do ensino regular)
foi removida da convenção, e entre 14 e 25 agosto
de 2006, esforços perduraram até os
últimos dias para remover um outro texto que poderia
justificar o segregação de estudantes com
deficiência. Após longas
negociações, o objetivo da inclusão
plena foi finalmente alcançado e a nova
redação do parágrafo 2 do artigo 24
foi definida sem objeção.
Cerca
de sessenta delegações de Estado e a Liga
Internacional da Deficiência (International Disability
Caucus), que representa cerca de 70 organizações
não governamentais (ONGs), apoiaram uma emenda proposta pelo
Panamá que obriga os governos a assegurar que: as medidas
efetivas de apoio individualizado sejam garantidas nos estabelecimentos
que priorizam o desenvolvimento acadêmico e social, em
sintonia com o objetivo da inclusão plena.
A
Convenção Internacional sobre Pessoas com
Deficiência é o primeiro tratado dos direitos
humanos do Século XXI e é amplamente reconhecida
como tendo uma participação da sociedade civil
sem precedentes na história, particularmente de
organizações de pessoas com deficiência.
Elementos
significativos do artigo 24 da instrução do
esboço:
* Nenhuma exclusão do sistema de ensino regular por motivo
de deficiência;
* Acesso para estudantes com deficiência à
educação inclusiva em suas comunidades locais;
* Acomodação razoável das
exigências indivíduais;
* O suporte necessário dentro do sistema de ensino regular
para possibilitar a aprendizagem, inclusive medidas eficazes de apoio
individualizado.
Barreiras
ao Ensino Inclusivo:
* Atitudes negativas em relação à
deficiência;
* Invisibilidade na comunidade das crianças com
deficiência que não freqüentam a escola;
* Custo;
* Acesso físico;
* Dimensão das turmas;
* Pobreza;
* Discriminação por gênero;
* Dependência (alto nível de dependência
de algumas crianças com deficiência dos que as
cuidam).
Aliás,
Educação Inclusiva, é na realidade uma
redundância, visto que educação
prevê-se atender a todos, mas a história nos conta
outra versão. Uma versão altamente influenciada
pelo poder, este que institui, institucionaliza, normatiza, pune e
separa as pessoas das outras.
“(...) São extraordinários os
esforços que estão sendo feitos para fazer nossas
linhas de montagem chamadas escolas tão boas quanto
às japonesas. Mas o que eu gostaria mesmo é de
acabar com elas. Sonho com uma escola retrógrada,
artesanal...
Impossível? Eu também pensava. Mas fui a Portugal
e lá encontrei a escola com que sempre sonhara: a Escola da
Ponte (dirigida pelo educador José Pacheco). Encantei-me
vendo o rosto e o trabalho dos alunos: havia disciplina,
concentração, alegria e eficiência.
(...) Disse, numa outra crônica, que quero escola
retrógrada. Retrógrado quer dizer “que
vai para trás”. Quero uma escola que vá
mais para trás dos “programas”
científicos e abstratamente elaborados e impostos. Uma
escola que compreenda como os saberes são gerados e nascem.
Uma escola em que o saber vá nascendo das perguntas que o
corpo faz. Uma escola em que o ponto de referência
não seja o programa oficial a ser cumprido (inutilmente!),
mas o corpo da criança que vive, admira, se encanta, se
espanta, pergunta, enfia o dedo, prova com a boca, erra, se machuca,
brinca. Uma escola que seja iluminada pelo brilho dos
inícios. * Correio Popular, Caderno C, 14/05/2000
– texto publicado originalmente com o título:
“Quero uma escola retrógrada”, Rubem
Alves..
Para
Foucault, o poder é algo que circula pelo social,
não permanece em lugar único na sociedade.
É relacional, ou seja, está numa
relação de forças constante, com
diferença de potencial. É dinâmico,
pode ser invertido a qualquer momento. Se for uma
relação, é preciso haver uma
cumplicidade. Onde há saber, há poder. Mas
é importante acrescentar: onde há poder,
há resistência. Se por um lado novos saberes,
novas tecnologias ampliam e aprofundam os poderes na sociedade
disciplinar em que vivemos – pensemos no alcance dos meios de
comunicação de massa como possíveis
formas de controle e manipulação – por
outro, sujeitos cada vez mais conscientes lutam contra as
forças que tentam reduzí-los a objetos, contra
toda heteronomia, contra as múltiplas formas de
dominação sempre criativas e renovadas.
As
diversas formas de resistência se articulam em rede nas lutas
pela auto-determinação pela conquista efetiva da
democracia, nas denúncias contra o racismo e o sexismo, nas
revoltas contra toda forma de discriminação,
exclusão e violência, na
preocupação com a ecologia e a
reflexão crítica sobre os limites
éticos das conquistas científicas e
tecnológicas.
Estamos
todos envolvidos nessas lutas e nossa
participação consciente e lúcida,
lá onde nos encontramos, na vida cotidiana, em nossa
prática, no trabalho, nas
instituições, precisa ser animada pela
esperança de sucesso da construção de
uma nova sociedade onde saberes e poderes estejam a serviço
do "cuidado de si", do "cuidado dos outros" e do "cuidado da vida".
Paulo
Freire (2001) escreveu em sua obra “Pedagogia do
Oprimido”:
“Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o
opressor, e se engajam na luta organizada por sua
libertação, é que começam a
crer em si mesmos, superando, assim sua convivência com o
opressor”.
Portanto,
de que tempo estamos falando? De que escola? De que
currículo?De que avaliação?E para
quem?A quem servimos?
Michel
Foucault em sua obra “Vigiar e Punir” (1999)
refere-se à organização do tempo como
uma forma de controle da atividade humana. Para este autor, a
existência de horários é uma
herança das comunidades monásticas que detalhavam
os tempos de seus dias, obrigavam a determinadas
ocupações e estabeleciam ciclos de
repetição.
A
partir das modificações trabalhistas que
ocorrerão especialmente no início do
século XIX, o tempo passa a ter um caráter de
utilidade; nas fábricas deve-se “garantir a
qualidade do tempo empregado: controle ininterrupto, pressão
dos fiscais, anulação de tudo o que possa
perturbar e distrair; trata-se de constituir um tempo integralmente
útil”.
Segundo
o autor, a partir especialmente dos séculos XVII e XVIII, a
noção de disciplina passou a adquirir o
caráter de dominação.
O
ser humano passou a ter seu corpo e seu comportamento manipulados pelo
poder, que se utilizou, dentre outras formas de controle, da
organização do tempo, o que permitiu uma
utilização mais eficiente do mesmo e das
atividades humanas. Esse controlepossibilitou uma
intervenção contínua, permitindo a
correção, a eliminação e o
castigo.
Na
maioria das nossas escolas esta herança permanece nas
rotinas da estrutura escolar, nas atitudes do cotidiano, na
perpetuação das práticas
pedagógicas sem sentido, na repetência dos alunos,
na seriação, nas adaptações
curriculares e nas avaliações formatadas. Tudo
dentro de um sistema que requer tempo, punição e
repetição.
O
tempo escolar pode ser entendido como um dos aspectos da cultura
escolar; é um tempo específico, diferente de
outros tempos; é institucional e organizativo; é
parte de uma organização cultural e
específica e como tal, resulta de uma
construção histórica.
A
arquitetura temporal, assim como a espacial, conforma e é
conformada pelas concepções
pedagógicas de cada momento histórico. Tempo e
espaço são elos de uma mesma corrente de
formação; ambos orientam condutas e organizam
atividades, determinam o aceitável e o impróprio,
permitem e negam determinados comportamentos. Assim, a
organização destes elementos acaba se
subordinando às premissas da ciência do momento
considerado; a prática educativa torna-se um instrumento de
coerção civilizatória.
A
cronologia compara e integra movimentos que não
estão presentes em simultaneidade; estabelece
relações entre o passado e o futuro. Como a
relevância do tempo depende da capacidade para mediar
às relações entre o passado e o futuro
de um presente, a cronologia promove, por si mesma, uma determinada
experiência e consciência temporal que se articula
a partir dela. Assim como a idéia de tempo pode ser
única e plural a um só tempo, há
também tempos individuais e coletivos, e há
tempos institucionalizados, dentre estes, o tempo escolar.
A
criança experimenta desde cedo o caráter
coercitivo do tempo. Ao crescer, aprende a interpretar os
códigos temporais e a pautar sua conduta sob sua
orientação; para desempenhar seu papel na
sociedade deverá aprender a desenvolver um sistema de
autodisciplina de acordo com esta instituição
social.
Para
Frago, a transformação da
coerçãoexercidapelo tempopadronizado num sistema
de autodisciplinailustra “a maneira como o processo
civilizador contribui para formar os hábitos sociais que
são parte integrante de qualquer estrutura de
personalidade.”
A
escola torna-se, no mundo civilizado, um dos mais importantes meios de
aprendizagem destes signos temporais.
O
tempo escolar não é uma estrutura neutra;
é um dos instrumentos mais poderosos para generalizar uma
idéia de tempo como algo mensurável e objetivo
que traz implicitamente determinadas concepções
pedagógicas; proporciona uma visão da
aprendizagem como processo de seleção e
opções, de ganhos e perdas, de avanços
e progressos.
Michel
Foucault observa que especialmente a partir do século XVIII,
o tempo (e o espaço) é reorganizado em
função do que ele chama de poder disciplinar.
Essa nova organização do tempo, de um tempo
disciplinar, se impõe pouco a pouco à
prática pedagógica, citando o autor:
“(...) especializando o tempo de
formação e destacando-o do tempo adulto, do tempo
do ofício adquirido; organizando diversos
estágios separados uns dos outros por provas graduadas;
determinando programas, que devem desenrolar-se cada um durante uma
determinada fase, e que comportam exercícios de dificuldade
crescente; qualificando os indivíduos de acordo com a
maneira como percorreram essas séries. O tempo
“iniciático” da
formação tradicional (...) foi
substituído pelo tempo disciplinar com suas
séries múltiplas e progressivas. Forma-se toda
uma pedagogia analítica, muito minuciosa. (...) Cada
programa deve ser cumprido no seu tempo. Cada elemento constituinte do
processo educativo deve ter a consciência das
exigências do “tempo”; seu comportamento
deverá estar pautado pelas
determinações do controle disciplinar. Aqueles
que, de alguma forma, não se adequarem a estas formas
serão excluídos. (1999)
Esta
forma de organizar e controlar a utilização do
tempo permite um controle detalhado do processo de aprendizagem, assim
como dos indivíduos que a ele estão ligados.
Desta maneira, a intervenção por parte daquele
que dirige o processo torna-se mais precisa; a qualquer momento
é possível corrigir e normalizar.
As
avaliações, provas graduais são
também mecanismos para marcar e controlar o tempo,
distinguindo os diversos níveis de aprendizagem. Elas
possibilitam o controle da aplicação dos
programas pré-estabelecidos pelo currículo. A
esse respeito, as escolas procuram estabelecer normas que permitam
à direção o controle do cumprimento do
programa e da situação dos alunos frente a este
programa. É mais uma demonstração de
que o tempo escolar procura, em sua própria especificidade,
regulamentar os tempos individuais; ele é, ao mesmo tempo,
pessoal e institucional. É um tempo que deve ser
interiorizado.
O
tempo escolar reflete também formas da gestão da
escola, ele é percebido de modo diferente pelos membros dos
estabelecimentos docentes. As divisões por série,
as subcategorizações de classes
(recuperação paralela, de apoio, de recursos, de
aceleração, de gênero, de etnia, etc.),
determinam a diversidade de percepção e
vivência do tempo e do espaço.
Um
exemplo que temos são as chamadas classes de
aceleração, que “aceleram o
tempo” escolar destas crianças que
estão em defasagem idade/série. Na realidade
foram estas crianças que “perderam seu
tempo” por um ensino que não atendeu suas reais
necessidades, mas novamente são elas a serem
“punidas e excluídas” em classes
separadas, em nome da adequação do sistema
educacional. O que constatamos nestes grupos de crianças e
jovens, são as diferenças sociais e neste caso de
hierarquia, acabam por justificar tratamentos não
equivalentes, diversidade esta que também é
aprendida e interiorizada desde a infância.
A
idéia de tempo útil apresenta-se nas
instituições escolares como um reflexo desta
concepção no mundo moderno; o professor deve
maximizar a utilização do tempo e recebe uma
série de orientações que podem indicar
sanções no caso do não cumprimento da
boa utilização do tempo.
A
distribuição do horário das aulas
dentro da semana está ligada ao tempo, às
exigências do mundo moderno e às
questões internas da escola, como o cumprimento dos
programas das disciplinas.
Esta
organização do tempo reflete determinadas
concepções higienistas; assim como o
espaço era passível de uma análise que
deveria considerar a iluminação, o arejamento, a
distribuição equilibrada dos corpos, o tempo deve
ser também considerado dentro dos princípios de
Higiene e Saúde. Justifica-se assim a existência
dos períodos de férias, dos horários
de recreio, dos intervalos. A distribuição do
horário acaba por determinar também as
dualidades: trabalho e descanso, tempo de aprender e de brincar, de
silenciar e de falar. Os horários indicam ainda uma
hierarquia de disciplinas pelo tempo a elas destinado. Assim, cabe
lembrar que o tempo escolar educa e conforma, orientado por outros
tempos sociais; ele condiciona e é condicionado pelo ritmo
da vida social e é um dos primeiros tempos úteis
a ser percebido pelas crianças.
“É pela imposição de um
ritmo próprio, escolar, marcado por sinais (como sinetas,
gestos e olhares dos/as professores/as etc.) e pela
delimitação do que pertence à sala de
aula e o que fica fora dela, que se treinam os sujeitos para a
aquisição de uma postura e uma
disposição vistas como condizentes às
atividades intelectuais e reflexivas. (Louro, 2000)
Na
escola aprende-se que há um lugar e um tempo para cada
coisa; há comportamentos permitidos e proibidos,
há normas que determinam o possível, ainda que
sofram transgressões. Determina-se através das
regras estabelecidas em cada instituição, o que
se considera adequado à conduta de cada elemento. Assim,
além de inculcar determinadas
concepções sobre o tempo que devem ser
interiorizadas, a escola acaba criando mecanismos de
conformação às condutas esperadas.
A
organização do tempo escolar promove,
através do estabelecimento de regras de comportamento, a
aprendizagem de uma visão da escola como
instituição com identidade própria,
dotada de normas e códigos específicos.
“Exercitar, repetir, prestar atenção,
fazer fila etc. são todas formas de expressão do
tempo escolar que, além de aprisionar o conhecimento em uma
teia de processos de ensino e estratégias de aprendizagem,
articulam-se com uma rede disciplinar.” (Souza, 1998)
As
formas de mensuração do tempo e a
força da presença desta
mensuração acabam promovendo a
existência de comportamentos que caracterizariam uma
“segunda natureza” (Viñao Frago, 1994),
pois se os comportamentos pautados pelo tempo não
são característicos do ser humano, tornam-se
parte de sua conduta através da
interiorização de um símbolo social.
Conclui-se
assim que a escolarização não implica
somente a aprendizagem ou de conteúdos
específicos principalmente, a aprendizagem de determinadas
concepções do tempo e do espaço. Como
observa Viñao Frago:
“Considerar
alguém “alfabetizado” em termos
escolares pressupõe a interiorização
do sentido imperativo do tempo”.
Professor
José Pacheco (2006), nos trouxe a luz a Escola da Ponte,
apresentando uma proposta de mudança de paradigma do
funcionamento da escola.
Segundo
o autor, em seu artigo “Resignificar a Escola” diz
o seguinte:
“(...)Para que se concretize a inclusão
é indispensável a alteração
do modo como muitas escolas estão organizadas. Para que a
inclusão passe a ser mais do que um enfeite de teses,
será preciso interrogar práticas educativas
dominantes e hegemonicas. Será preciso reconfigurar as
escolas.
No passado, como nos nossos dias, há escolas cativas de
vícios e ancoradas em práticas obsoletas,
geradoras de insucesso. Há mais de um século,
como hoje, há professores que se interrogam e tentam
melhorar as escolas. Mas há, também,
“dadores” de aulas que recusam
interrogações e que impedem que as escolas
melhorem.
Quando serão postos em prática os
princípios de escola inclusiva enunciados, há dez
anos, na Conferência de Salamanca?
Quando se deixará de centrar o problema no aluno, para
centrar numa gestão diversificada do currículo?
Quando cessará a intervenção do
especialista, num canto da sala de aula, e se integrará o
especialista numa equipa de projeto?
Quando se concretizará uma efetiva
diversificação das aprendizagens, que tenha por
referência uma política de direitos humanos, que
garanta oportunidades educacionais e de
realização pessoal para todos?
Por muito que isso desespere os adeptos do pensamento único,
eu sei que é possível concretizar a utopia de uma
escola que dê garantias de acesso e de sucesso a todos (e com
excelência acadêmica!). E sei (como outros sabem)
que isso é possível... na prática!
Sabemos que há muitos professores conscientes da
falência do tradicional modelo de
organização e de que urge reconfigurar as
escolas. Quantos professores eu conheço capazes de
desconstruir estereótipos e de operar essa
reconfiguração!
Perguntar-se-á, então: O que impede que o
façam?
Por que não mudam as escolas?”
Portanto,
o artigo se propôs a uma reflexão
crítica, um chamamento a realidade do funcionamento da
instituição escola, a quem estamos servindo, de
que maneira administramos nosso tempo, pensem sobre que tempo estamos
falando e nas atitudes que podem ser tomadas no PRESENTE para a escola
mudar e atender a TODOS com dignidade!
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